Friday, May 22, 2009

Carta ao Continente: Excesso de Gordura, Sal "q.b.", na receita "Lasanha de Bacalhau" e Sugestões de Melhoria



Exmºs Senhores

Em relação à receita em conta "Lasanha de bacalhau", venho referir que, no contexto actual, em que as doenças como a obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, entre outras, estão na ordem do dia, sendo a obesidade considerada uma epidemia, parece me extremamente desadequado, colocar a margarina vaqueiro como um ingrediente base da receita.

Para além disso, uma análise mais cuidada da receita, permite verificar que da margarina vaqueiro, são utilizados apenas 40 g, em comparação com o leite, do qual são usados 7 dl. Parece-me igualmente desadequado considerar o azeite como um ingrediente base, por motivos semelhantes, embora, do ponto de vista qualitativo, o azeite seja uma gordura de qualidade muito superior à margarina.

Considero ainda lamentável, mais uma vez dentro do contexto actual, que não tenha sido contemplada uma salada de alface (e/ou tomate) para acompanhar o prato, uma vez que os legumes são considerados componentes fundamentais numa alimentação equilibrada.

Observo ainda que na receita é referido para o molho branco o uso de sal - q.b.. No entanto a apreciação nutricional refere por dose de lasanha, um teor de sal de 4,9 g (valor que para uma refeição ultrapassa largamente o recomendado). Não entendo como é possível indicar este valor quando o uso de sal está dependente do "q.b.". Talvez estejam apenas a fazer referência ao sal do prato, sem contabilizar o que é adicionado "q.b.", o que não deixa de estar incorrecto/incompleto.

Refiro ainda que considero a iniciativa das "Receitas em conta" muito interessante e louvável, mas penso que o Continente, numa perspectiva de responsabilidade social, podia ter uma acção mais educativa para com o consumidor. Neste sentido, para a receita em causa sugeria as seguintes alterações:

1 - Redução para 20 cl a quantidade de azeite utilizada para o refogado
2 - Substituição de margarina para azeite a gordura utilizada no molho branco (ao nível do sabor esta alteração não é perceptível e melhora consideravelmente o perfil lipídico, com diminuição de gorduras trans e aumento de ácidos gordos monoinsaturados) e redução da quantidade utilizada de 40 para 20 g.
3 - aumento para 200 g de cebola a quantidade utilizada na preparação do recheio
4 - eliminação da farinha para engrossar - eliminação de glícidos refinados desnecessários
5 - inclusão de alface com + 20 g de azeite para temperar e oregãos - aumento da quantidade de fibra (contribuição para a sensação de saciedade), vitaminas e minerais

Considero que estas alterações melhorariam o perfil nutricional da receita, sem aumento significativo de custos (1 alface 400 g - 0,52 €) http://www.continente.pt/).

Continuação de bom trabalho.

Com os melhores cumprimentos,

Claudia Viegas
Dietista

Thursday, May 21, 2009

"Serviço de Saúde" RTP1: A brincar a brincar... mas sem piada alguma




(Email enviado, sem resposta até hoje, à RTP)


No programa da Maria Elisa desta semana (RTP 1), sobre doenças coronárias, às tantas o director clínico do Hospital da Luz, o Dr. Roquette, falava sobre o sal dos alimentos e especificamente do pão:

"oiça, se vamos por aí [diminuir o sal do pão] qualquer dia... enfim, a vida fica uma chatice! A vida tem de ter alguns atractivos, alguns riscos!" [pois já tinha que se retirar o fumo, etc., etc.], ao que a apresentadora solta uma gargalhada (resposta improvável?), e pergunta novamente sobre o sal no pão/alimentos (não fosse o Dr. Roquette estar a brincar e mudar de opinião?) e pergunta se ele não comia pão... Ele continua na sua linha de pensamento [claramente minimizando o tema] e depois diz "eu não como pão, não gosto de pão [também não fuma], eu como torradas." (!!!)

E assim estamos em termos de nutrição: um médico "poderoso" (sem ironia) a falar basicamente do que desconhece (o impacto da alimentação na saúde), sem haver um nutricionista ou dietista no programa que elucide! (Ou isso ou estamos muito mal, pois minimizar o sal dos alimentos desta maneira penso só pode ser por ignorância, e não por "interesse".)

O pão é de facto um elemento chave na nossa alimentação DIÁRIA e sabe-se que tem elevados níveis de sódio, por vezes chegando a ser intragável (falo por mim), já para não falar das sopas, etc. etc. Fico triste de ouvir pessoas influentes na área da saúde a terem esta postura descontraída e brincalhona para com a alimentação... É revelador do quão pouco acreditam na nutrição e da sua falta de conhecimentos em nutrição. (Nota: não ouvi o programa todo mas esta parte apanhei; apanhei também a afirmar que uma alimentação saudável é "muito mais cara" [que a fast food]; de resto a Maria Elisa teve dificuldade em obter deste médico uma mensagem útil/pedagógica para os telespectadores, sobre alimentação, chegando a dizer que a postura dele era conforme os seus gostos...)

Também penso ser uma falha recorrente da parte da produção colocarem médicos a falar de nutrição quando os nutricionistas e dietistas são quem tem "autoridade" (leia-se, conhecimento) para o fazer com rigor (salvo raras excepções onde outros profissionais de saúde estudaram e sabem de nutrição, de facto.)

Como mensagem de prevenção primária penso que andámos para trás com esta intervenção.
http://tv1.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=24440&e_id=&c_id=1&dif=tv

Deixo a minha opinião.

Melhores cumprimentos,

Madalena Muñoz
Nutricionista
http://www.madalenamunoz.com/

Wednesday, May 20, 2009

MISSÃO DO BLOG "2ª OPINIÃO EM NUTRIÇÃO"

There is nothing more potent than thought. Deed follows word and word follows thought. And where the thought is mighty and pure, the result is mighty and pure.
--Gandhi

Irei neste blog tentar o meu melhor no exercício de esclarecer, responder e opinar sobre matérias de nutrição e alimentação. Tentarei reflectir um pensamento sustentado, contrariando a superficialidade e ligeireza com que as matérias são tratadas por vezes. Tentarei trazer ao lume assuntos relevantes que são esquecidos ou ignorados por muitos. À parte da franca "opinião" farei o meu melhor para ser objectiva e positiva. Conto com o vasto conhecimento técnico, experiência e bom senso da muito amiga e colega Cláudia Viegas, para me dar uma 2ª opinião...

Madalena Muñoz

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Esclarecer, esclarecer, esclarecer... lutar por esclarecer aqueles que tentam saber um pouco mais sobre a arte de bem comer, bem nutrir e bem cuidar do nosso corpo...
... porque as mensagens que são transmitidas na TV, nos jornais, nas revistas, de boca em boca, entre outros, são tantas vezes erradas, mitológicas, sensacionalistas, fundamentalistas... e porque isto de comer é uma arte, onde a ciência e as respostas não são a preto e branco, mas dispersas numa vasta gama de cores, onde os conceitos devem ser bem entendidos para não se perderem em mal entendidos e erradas percepções, pretendo acima de tudo ESCLARECER, fazer COMPREENDER e INFORMAR, com experiência e BOM SENSO, contando com a preciosa ajuda e sabedoria da minha AMIGA e colega Madalena Muñoz...

Cláudia Viegas